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“Lado a Lado” decepciona na audiência, mas termina campeã de prestígio


Lado a Lado/ Divulgação
Sites e colunistas noticiaram com alarde que “Lado a Lado” - que terminou nesta sexta-feira - figura como a novela das seis de pior audiência dos últimos dez anos. Lembro aqui que os números de São Paulo (onde índices preliminares acusam média de 18 pontos) é que comandam o cenário nacional, pois a capital paulista concentra a maior fatia do bolo do mercado publicitário (há lugares onde teve desempenho de trama das 21h, como Recife, Salvador e Porto Alegre, chegando a 30, 35 pontos).
Nos altos e baixos da dança dos números, chegou a amargar a decepcionante marca de 13,5 pontos (em 20 de dezembro) e a bater na casa dos 25 (em 16 de janeiro). Cada ponto equivale a 61 mil domicílios na Grande São Paulo. Pode parecer irônico, mas – mesmo diante desse quadro – “Lado a Lado” pode ser considerada uma grande novela. Está em outro patamar, merecidamente (e azar de quem não pode desfrutar dessa história).
Executivos de televisão, especialistas no assunto e mesmo os anunciantes entendem hoje em dia que a audiência não pode (e nem deve) ser analisada apenas pelos números do Ibope. O sucesso ou o fracasso de uma trama se mede por uma série de fatores (a exibição de capítulos na Internet, inclusive). Por isso, a história de João Ximenes Braga e Claudia Lage chega ao fim com a sensação de missão cumprida.
A trama é campeã de prestígio – e isso é importante. Audiência não é sinônimo de qualidade, o que “Lado a Lado” tem de sobra. Por que você acha que um programa que patina no Ibope muitas vezes segue no ar? Porque tem prestígio junto ao mercado. Porque atrai anunciantes – seja pelo conteúdo ou por ter um (a) apresentador (a) que “vende”. Em contrapartida, alguns lideram a audiência, mas ninguém quer associar sua marca a baixaria.

A vilã Constância, interpretada por Patrícia Pillar
Por mais que evidenciem os percalços da audiência, jornalistas de plantão (inclusive eu) são praticamente unânimes ao apontar “Lado a Lado” como um produto impecável. Aí a repercussão positiva. Novela é conjunto! A trama teve ótimos atores (elenco digno de horário nobre), direção cuidadosa (com Dennis Carvalho no comando), produção caprichada e trilha sonora bem escolhida (a começar pelo tema de abertura, o samba-enredo “Liberdade, Liberdade”).
Sobre o texto (a estreia dos autores num voo solo após anos colaborando com Gilberto Braga, supervisor da história), João Ximenes e Claudia conseguiram prender o público e pontuar passagens históricas importantes da sociedade carioca do início do século 20 (após o declínio do Império) sem cair no didatismo exacerbado. Tudo estava no contexto, aparecia em ações (a situação do negro e da mulher, por exemplo). Nada de personagem ficar explicando tudo nos mínimos detalhes, falando sozinho (solilóquio), como aparece em muitas tramas que nem são de época.
Claro, teve o bom melodrama, que não pode faltar numa novela para o telespectador se identificar: a mãe que sofre a perda do filho, depois o reencontra e luta por ele; amores e desencontros. E por aí vai. A amizade de Laura (Marjorie Estiano) e Isabel (Camila Pitanga), numa busca por liberdade e amor, justificou muito bem o título.
E foi aquela novela na qual todos os atores tiveram seu momento para brilhar. Numa boa costura todos foram aproveitados. Merecido destaque, sim, para Marjorie, Camila, Patrícia Pillar (Constância), Sherom Menezes (Berenice), Isabela Garcia (Célia), Cássio Gabus Mendes (Bonifácio), Caio Blat (Fernando) e Milton Gonçalves (Afonso).
 Edgar ( Thiago Fragoso) e Laura ( Marjorie Estiano)
Considero injusto o comentário de alguns que Thiago Fragoso (Edgar) roubou a cena de Lázaro Ramos (Zé Maria). É ponto de vista, vamos respeitar. Os dois estavam ótimos. Como excelente ator, Lázaro defendeu com dignidade e brilhantismo o que foi exigido do personagem, o super-herói negro. Não esqueci da boa dose de comédia no núcleo do teatro, que reuniu Maria Padilha (Diva), Paulo Betti (Mário), Tuca Andrada (Frederico), Maria Clara Gueiros (Neusinha) e ainda projetou Álamo Facó (Quequé).
Puxando pela memória, me lembrei de outra trama das seis, também de época, essa assinada pelo já consagrado Gilberto Braga (e Alcides Nogueira): “Força de Um Desejo” (1999/2000). O enredo era envolvente, a cada capítulo uma novidade (embora muitos não consigam enxergar isso em novelas de época).
Com todos os mesmos atributos de “Lado a Lado”, teve problemas com a audiência e tentaram culpar a Globo pelo fato de ter retomado as histórias de época no horário (novelas “atuais” que vieram depois tiveram problemas ainda maiores). Mas “Força de Um Desejo” figura entre as superproduções do horário das seis, tendo desempenhado um belo papel no Exterior. A trama dos pupilos de Braga deve seguir agora o mesmo caminho e ser lembrada no futuro mais pela obra do que por fatores externos. Devido reconhecimento.

“Flor do Caribe”, de Walther Negrão, vem aí com a missão de deixar mais clara e ensolarada a faixa das seis. Será que vai clarear a audiência?

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